Os furtos de energia continuam sendo um dos maiores desafios do setor elétrico brasileiro — e a Light, concessionária que atende o Rio de Janeiro, está no topo desse problema. Segundo um levantamento da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a empresa figura entre as líderes em perdas não técnicas no país em 2024, com impressionantes 34,1% da energia distribuída desviada por ligações clandestinas, fraudes em medidores ou erros na leitura e no faturamento.
Na prática, isso significa que mais de um terço de toda a energia que a Light coloca na rede simplesmente não chega aos clientes de forma regular. E o consumidor legalizado sente no bolso: 9,1% da tarifa residencial da Light corresponde diretamente às perdas não técnicas.
Quem lidera o ranking nacional é a Amazonas Energia, com 34,1% de perdas e 12,9% do peso reado nas tarifas. A Equatorial Amapá aparece na sequência, com 8,2%.
No total, os chamados “gatos” de energia, fraudes e outros desvios custaram R$ 10,3 bilhões ao país em 2024, segundo a Aneel. Esse valor gigantesco não considera as perdas técnicas, que são aquelas inerentes ao funcionamento da rede elétrica, como aquecimento de fios ou transformadores.
Esses números refletem tanto dificuldades estruturais nas empresas quanto desafios socioeconômicos das regiões atendidas, aponta o relatório da Aneel.
Além do Rio, o problema se repete em estados da Região Norte e também no Amapá, onde há grandes bolsões de consumo irregular. Na outra ponta do ranking estão as distribuidoras Energisa Sergipe e Energisa MR, com os menores índices de perdas não técnicas no país.
A Aneel explica que parte desse prejuízo vai, sim, parar na conta de quem paga a luz corretamente. Isso acontece porque o órgão regulador reconhece nas tarifas um valor chamado de perdas eficientes, que seriam os índices mínimos possíveis dentro de uma operação considerada adequada. Tudo o que a desse valor, tecnicamente, é prejuízo das distribuidoras.
Só que, na prática, mesmo os valores reconhecidos representam uma transferência de custo para o consumidor. “O consumidor regular arca parcialmente pela fraude ou furto de energia na sua tarifa”, ite o relatório.
Combate aos “gatos”
O combate aos furtos é um desafio permanente, especialmente em grandes centros urbanos como o Rio de Janeiro. A Aneel adota uma metodologia de acompanhamento que define limites regulatórios para as perdas. Se a concessionária consegue operar abaixo desse limite, ela tem um bônus financeiro. Mas se não cumpre, não recebe punição direta — apenas não recebe esse benefício extra.
Na prática, portanto, o risco financeiro do furto acaba parcialmente compartilhado com o cliente, dentro dos limites aceitos na regulação.
Além das perdas não técnicas, existem as chamadas perdas técnicas — aquelas naturais do sistema, como o aquecimento dos fios durante o transporte da energia. Essas, em 2024, custaram R$ 11,2 bilhões, valor até maior do que as perdas por furtos. As campeãs nas perdas técnicas foram Equatorial Pará (11,9%) e Equatorial Amapá (11,5%).
Mas, diferentemente dos furtos, as perdas técnicas são consideradas inevitáveis em qualquer sistema elétrico e são integralmente reconhecidas na tarifa.
No caso da Light, a empresa enfrenta há anos um verdadeiro desafio para reduzir os altos índices de perdas, especialmente em comunidades onde o o regular à energia é dificultado por questões sociais, urbanísticas e até de segurança.
O relatório da Aneel deixa claro que, enquanto não houver uma solução estruturante — tanto no combate às fraudes quanto na melhoria das condições socioeconômicas das áreas atendidas —, o problema dos “gatos” continuará pesando na conta de quem paga a energia de forma regular.